segunda-feira, 23 de abril de 2012

MONSENHOR MANUEL VILAR, REITOR DO PONTIFÍCIO COLÉGIO PORTUGUÊS DE ROMA

“Um abismo de santidade e sabedoria”

O Mons. Vilar (Terroso, Póvoa de Varzim, 14/9/1903 – Porto, Hospital de S. Francisco, 7/3/1941) foi no seu tempo um sacerdote muito prestigiado, “um dos membros mais ilustres do Clero português”, como se escreveu à sua morte. Tendo ido muito cedo para o seminário diocesano bracarense, seguiu em 1922 para Roma, para a Universidade Gregoriana, onde se doutorou em Filosofia e Teologia. Lá se ordenou em 29/7/1928, celebrando a sua primeira missa no Santuário do Loreto, em 5 de Agosto.
Em 1929, veio para professor do Seminário Conciliar e foi elevado à dignidade de cónego em 25/5/1931. No ano seguinte foi nomeado vice-reitor da instituição e, em 1936, reitor. Coube-lhe a tarefa meritória de reorganizar os estudos do seminário em moldes modernos e de reconhecida qualidade científica, após as dificuldades advindas da Primeira República.
Em 1939 é nomeado reitor do Pontifício Colégio Português de Roma e ascende à dignidade de monsenhor.
Da despedida do seminário e da intervenção de várias entidades, mesmo poveiras, aquando da partida para Roma, foi elaborado um livro, intitulado O Senhor Cónego Vilar, que, embora se apresente anónimo, é devido aos cuidados do terrosense António Sousa Carvalho (depois Fr. António do Rosário, O.P.)
Em Roma, Mons. Vilar proferiu palestras semanais na emissão portuguesa da Rádio Vaticano, que eram depois retransmitidas pela Rádio Renascença (fundada por Mons. Lopes da Cruz, natural também de Terroso).
Atacado por uma doença pulmonar em 1940, vem primeiro para Lisboa e depois para o Hospital de S. Francisco, no Porto, onde falece, com 39 anos.
Sabendo-se que foi este jovem sacerdote quem diligenciou junto de Pio XII com vista a transmitir-lhe a vontade de Jesus manifestada à nossa Beata de que o mundo fosse consagrado ao Imaculado Coração de Maria, já se vê quanto ele nos interessa. Quando vai para Roma, em Março de 1939, já desde Janeiro visitava oficialmente Balasar.
Da longa carta do cónego Dr. Molho de Faria que vem no livro O Senhor Cónego Vilar vamos transcrever alguns parágrafos:
O Cónego Vilar propôs-se um grande ideal que jamais perdeu de vista. Sabia muito bem que era necessário ao homem, que aspira sin­grar na vida e fazer alguma coisa acima da vulgaridade no apostolado das almas, fixar-se em altos ideais. Sabia, pois, que era necessá­rio procurá-los, concebê-los e encarná-los, para ir até às últimas consequências na sua reali­zação. Sabia que sem eles o homem nada fa­ria ou rastejaria mísera e mesquinhamente.
O Mons. Vilar era apenas um ano mais velho que a Alexandrina e morreu logo adiante, de cancro, oferecendo a sua vida pela santificação dos sacerdotes, sem conseguir concluir a missão junto da Santa Sé.
Nas suas visitas a Balasar, usou de grande delicadeza. Em certo sentido, ele parecia irmão da Alexandrina, apesar da sua formação universitária e méritos intelectuais.
O seu reconhecimento da autenticidade das vivências místicas da Doente de Balasar bem como algumas notáveis cartas que lhe enviou foram argumentos com que se escudavam os defensores da Alexandrina ao tempo em que Braga quis que se fizesse silêncio sobre ela.
O Mons. Vilar associou a Alexandrina à sua tarefa de direcção do Colégio Português de Roma, chamando-lhe sua “colaboradora providencial”. O que estava certo, pois Jesus virá a chamar-lhe “doutora das ciências divinas” e a afiançar que nela deverão aprender “os pequenos, os grandes, os ignorantes e os sábios”...
Esta, por sua vez, deixou sobre ele as palavras mais elogiosas; referiu-se-lhe como “um abismo de santidade e sabedoria”. Ninguém fora tão longe. Veja-se o contexto da expressão:
Como me sentia muito bem a conversar com ele (o Mons. Vilar) e como tinha toda a licença do meu Director espiritual, falámos muito, mesmo muito de Jesus, porque sentia-me como que mergulhada num abismo de santidade e sabedoria, o que raras vezes me acontece, mesmo com sacerdotes. Disse-lhe que não falava assim com outros senhores Padres, porque não era feitio meu, mas sim pela confiança que nele sentia. Sua Reverência respondeu-me:
- Faz muito bem, Alexandrina, em nada dizer porque, se lhes dissesse, eles não a compreenderiam.
Chorei quando Sua Reverência se despediu de mim na partida para Roma. Prometeu escrever-me de lá, dizendo-me que ficaria a ser a sua intercessora na terra.
O Rev. Cónego Costa Lopes, num opúsculo que escreveu para recordar o centenário de Mons. Vilar, colocou uma muito bela consagração a Nossa Senhora feita pelo Mons. Vilar no dia da sua ordenação sacerdotal, que aqui se copia.



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